O BANGUÊ
O Banguê em seu contexto original segundo
o dicionário Aurélio, esta relacionado a uma propriedade Agrícola com canaviais
e engenho de açúcar primitivo. Em relação ao conceito artístico também foi
relacionado aos engenhos, pois foi classificado como Dança dos Engenhos. Teve
origem após a abolição da escravatura, através dos descendentes de escravos
africanos, que habitavam a ilha do Marajó. No município de Cametá, formaram um quilombo para a proteção dos negros fugitivos, que conseguiam
escapar do domínio português, dos trabalhos forçados e da vida de amargura e
sofrimentos. Nenhum negro aceitava qualquer aproximação com
os brancos, mesmo de interesse puramente comercial, sendo o comercio realizado
no meio dos rios, através de pequenas embarcações. As apresentações das
manifestações artísticas, eram realizadas no Banguê (Engenho de Açucar no
dialeto Africano), deixando os brancos maravilhados.Nas explicações dadas, os
movimentos exagerados, se devem à imitação das ondulações feitas pela espuma do
tacho (caldeirão), onde se preparava o mel de cana.
O BANGUÊ EM IGARAPÉ-MIRI
Em Igarapé-Miri o Banguê também foi relacionado a grupos musicais
específicos, que tocavam as músicas que se caracterizavam pela particularidade das
vozes, que juntas produzem uma harmonia impressionante, que é a marca primordial
dessa apresentação - e recebem o agrado da população, que os presenteavam com o
que tinham naquele momento (dinheiro, bebidas, comidas, animais etc.), e que
ainda hoje desenvolvem essa atividade no Município. Essa forma particular de
execução com vozes divididas (como em um coral) ficou caracterizada como parte
principal das ladainhas e rezas e festejos religiosos, assim como na folia de
reis que ainda hoje acontece nos dias 05 e 06 de Janeiro.
Além da particularidade das vozes,
podemos destacar os instrumentos compõem o banguê:
A
ONÇA:
Tambor feito de troco de árvore furada, que geralmente utilizavam couro de
animais para fechar a boca, onde alguns diziam ser couro de onça mesmo. O
músico puxava na parte de dentro um cordão que produzia um som parecido com o
barulho emitido por uma onça. A onça lembra muito, o que hoje conhecemos por
cuíca.
O
BUMBO: Antes feito artesanalmente, também com couro de
animais, mas que depois foi substituído por instrumentos feito em fábricas.
CHOCALHO
DE MILHO: Canudo de Bambu com dentes perfurados por toda a
extensão do canudo, que produzia o som de xeque xeque.
BANJO:
O símbolo do banguê, também era feito artesanalmente, mas que já se admite hoje
a substituição pelos mais modernos.O banguê da Ilha é um grupo musical que
surgiu da organização de músicos do tradicional banguê que acompanhavam as
ladainhas e festas profanas em Igarapé-Miri nos anos 70.
MESTRE SOCÓ & O BANGUÊ DA ILHA
Raimundo Farias de Sousa, mais conhecido
por Mestre Socó, é natural de Igarapé-Miri, músico autodidata que referencia
sua produção musical no município participando de grupos de banguê. Mestre Socó
acompanhou ladainhas, folia de reis, além de animar festas religiosas ocorridas
na cidade e no interior. Foi responsável por muitos anos pela execução musical
do Cordão do Camarão e Pastorinhas filhas de Conceição coordenadas pela professora
Eurídice. De uma família extremamente musical, Mestre Socó impressionava por sua desenvoltura musical, tocando banjo, cavaquinho, violão e cantando.
Depois de todo esse percurso musical, no
ano de 2007, Mestre Socó junto com seus parceiros de muitos anos, formaram o
grupo batizado “Banguê da Ilha”. O grupo procura registrar o que foi esse movimento
no Município através da gravação de dois CD’s com composições próprias. Esses
discos nos mostram o estilo musical classificado como banguê. O grupo começou
seu trabalho a partir de uma composição de Mestre Socó chamada: Banguê da Ilha.
Em uma conversa informal com mestre Socó ele dizia:
"No inicio os músicos reuniam-se depois do trabalho para brincar com algumas letras que eram feitas naquele momento para esquecer um pouco da dureza do trabalho diário, e a partir daí, esse grupo de amigos memorizavam essas letras que depois se transformaram em “música pra valer”
Os componentes do grupo relatam que a
paixão pelo Banguê, começou quando ainda eram crianças. Na oportunidade,
acompanhavam seus pais e familiares nos festejos religiosos, nas missas,
ladainhas, etc. Em todos esses eventos, um grupo de Banguê se apresentava.
Influenciados por essas apresentações, alguns dos integrantes, ainda crianças,
organizavam seus próprios grupos de Banguê, improvisando tambores com latas e
preparando seus instrumentos artesanalmente.
O banguê da Ilha tem em sua formação original os seguintes músicos:
* Mestre Socó: Vocal e Banjo.
* Seu Estevão: Vocal e Surdo
* “Cumpadre” André: Vocal e Tumba
* Sr. Beré (Onça)
* Sr. Alofote (Cavaquinho)
Mestre
Socó faleceu no ano de 2013 deixando dois Cds gravados com composições próprias.
Seus familiares (filhos, sobrinhos, netos etc.) resolveram não deixar morrer a
tradição do Banguê de Mestre Socó, saindo nas ruas de Igarapé-Miri no período da
Folia de Reis, fortalecendo assim a manutenção da Cultura de nossa terra.