segunda-feira, 27 de abril de 2015

MESTRE SOCÓ E O BANGUÊ DA ILHA

O BANGUÊ 





O Banguê em  seu contexto original  segundo o dicionário Aurélio, esta relacionado a uma propriedade Agrícola com canaviais e engenho de açúcar primitivo. Em relação ao conceito artístico também foi relacionado aos engenhos, pois foi classificado como Dança dos Engenhos. Teve origem após a abolição da escravatura, através dos descendentes de escravos africanos, que habitavam a ilha do Marajó. No município de Cametá, formaram um quilombo para a proteção dos negros fugitivos, que conseguiam escapar do domínio português, dos trabalhos forçados e da vida de amargura e sofrimentos. Nenhum negro aceitava qualquer aproximação com os brancos, mesmo de interesse puramente comercial, sendo o comercio realizado no meio dos rios, através de pequenas embarcações. As apresentações das manifestações artísticas, eram realizadas no Banguê (Engenho de Açucar no dialeto Africano), deixando os brancos maravilhados.Nas explicações dadas, os movimentos exagerados, se devem à imitação das ondulações feitas pela espuma do tacho (caldeirão), onde se preparava o mel de cana.





O BANGUÊ EM IGARAPÉ-MIRI

Em Igarapé-Miri o Banguê também foi relacionado a grupos musicais específicos, que tocavam as músicas que se caracterizavam pela particularidade das vozes, que juntas produzem uma harmonia impressionante, que é a marca primordial dessa apresentação - e recebem o agrado da população, que os presenteavam com o que tinham naquele momento (dinheiro, bebidas, comidas, animais etc.), e que ainda hoje desenvolvem essa atividade no Município. Essa forma particular de execução com vozes divididas (como em um coral) ficou caracterizada como parte principal das ladainhas e rezas e festejos religiosos, assim como na folia de reis que ainda hoje acontece nos dias 05 e 06 de Janeiro.
Além da particularidade das vozes, podemos destacar os instrumentos compõem o banguê:
A ONÇA: Tambor feito de troco de árvore furada, que geralmente utilizavam couro de animais para fechar a boca, onde alguns diziam ser couro de onça mesmo. O músico puxava na parte de dentro um cordão que produzia um som parecido com o barulho emitido por uma onça. A onça lembra muito, o que hoje conhecemos por cuíca.
O BUMBO: Antes feito artesanalmente, também com couro de animais, mas que depois foi substituído por instrumentos feito em fábricas.
CHOCALHO DE MILHO: Canudo de Bambu com dentes perfurados por toda a extensão do canudo, que produzia o som de xeque xeque.
BANJO: O símbolo do banguê, também era feito artesanalmente, mas que já se admite hoje a substituição pelos mais modernos.O banguê da Ilha é um grupo musical que surgiu da organização de músicos do tradicional banguê que acompanhavam as ladainhas e festas profanas em Igarapé-Miri nos anos 70. 


MESTRE SOCÓ & O BANGUÊ DA ILHA


Raimundo Farias de Sousa, mais conhecido por Mestre Socó, é natural de Igarapé-Miri, músico autodidata que referencia sua produção musical no município participando de grupos de banguê. Mestre Socó acompanhou ladainhas, folia de reis, além de animar festas religiosas ocorridas na cidade e no interior. Foi responsável por muitos anos pela execução musical do Cordão do Camarão e Pastorinhas filhas de Conceição coordenadas pela professora Eurídice. De uma família extremamente musical, Mestre Socó impressionava por sua desenvoltura musical, tocando banjo, cavaquinho, violão e cantando.



        
            Depois de todo esse percurso musical, no ano de 2007, Mestre Socó junto com seus parceiros de muitos anos, formaram o grupo batizado “Banguê da Ilha”. O grupo procura registrar o que foi esse movimento no Município através da gravação de dois CD’s com composições próprias. Esses discos nos mostram o estilo musical classificado como banguê. O grupo começou seu trabalho a partir de uma composição de Mestre Socó chamada: Banguê da Ilha.
           Em uma conversa informal com mestre Socó ele dizia: 

"No inicio os músicos reuniam-se depois do trabalho para brincar com algumas letras que eram feitas naquele momento para esquecer um pouco da dureza do trabalho diário, e a partir daí, esse grupo de amigos memorizavam essas letras que depois se transformaram em “música pra valer”

Os componentes do grupo relatam que a paixão pelo Banguê, começou quando ainda eram crianças. Na oportunidade, acompanhavam seus pais e familiares nos festejos religiosos, nas missas, ladainhas, etc. Em todos esses eventos, um grupo de Banguê se apresentava. Influenciados por essas apresentações, alguns dos integrantes, ainda crianças, organizavam seus próprios grupos de Banguê, improvisando tambores com latas e preparando seus instrumentos artesanalmente.

O banguê da Ilha tem em sua formação original os seguintes músicos:
* Mestre Socó: Vocal e Banjo.
* Seu Estevão: Vocal e Surdo
* “Cumpadre” André: Vocal e Tumba
* Sr. Beré (Onça)
* Sr. Alofote (Cavaquinho)




Mestre Socó faleceu no ano de 2013 deixando dois Cds gravados com composições próprias. Seus familiares (filhos, sobrinhos, netos etc.) resolveram não deixar morrer a tradição do Banguê de Mestre Socó, saindo nas ruas de Igarapé-Miri no período da Folia de Reis, fortalecendo assim a manutenção da Cultura de nossa terra.





sexta-feira, 24 de abril de 2015

Os Gonçalves na história da Música Miriense

JOSÉ PLÁCIDO GONÇALVES

                                                                        
                                                                        
  
A história da música miriense, se confunde com a história de José Plácido. Nascido no longínquo ano de 1895 no Rio Pindobal Grande, o lavrador de família humilde, conheceu Luzia Tereza, com a qual casou e constituiu uma família grande, de aproximadamente 13 filhos legítimos, e alguns outros de criação. Ao chegar à sede do município, José Plácido estabeleceu residência. Já nessa época o exímio tocador de flauta, passou a integrar as bandas musicais da cidade, tendo como registro a participação na segunda banda instituída no município de Igarapé-Miri.
Segundo Soares (2001):
 Havia na cidade uma banda de Música criada e regida pelo maestro João Valente do Couto, que executava não só música profana nos bailes e festas de ancião, como também música sacra, no coral das igrejas de Santana e Nossa Senhora da Conceição que ainda existia nessa época. (p.230).


Banda de Igarapé-Miri
Fonte: Acevo da Família Gonçalves


 Foi um dos responsáveis pela  implantação no Município da primeira apresentação de um cordão de pássaros, no qual era o responsável pela direção musical. Depois da experiência com os cordões, integrou grupos de Peças teatrais, reisados, pastorinhas, entre outros.
        José Plácido teve durante a vida, alguns alunos, os quais queria muito transmitir os ensinamentos de execução de sua flauta. Incentivou: filhos, netos, bisnetos, mas nenhum deles seguiu o legado de instrumentista da flauta de Tio José, Ainda assim, trouxe para música, seus filhos e netos. Entre eles podemos citar: Pinduca (considerado o Rei do Carimbó do Brasil), 

Pinduca

                       Pim (que na época recebeu o titulo de Rei do Siriá), Mário Gonçalves (um dos primeiros a gravar guitarradas no Pará), Pio Gonçalves, e alguns netos que também figuraram no cenário da música miriense e paraense como Dercy Gonçalves,  Dinaldo Gonçalves (hoje cantor evangélico, com muitos discos gravados), 







Pastor Dinaldo



Dercy Gonçalves


                           Além de João Batista GonçalvesDaniel Gonçalves, José Antônio Gonçalves (que participaram da época áurea da música miriense, integrando a Banda Miri Boys e Tropical respectivamente), Paulo Kleber, Douglas, Neném, entre uma lista extensa que configuram ainda, bisnetos, e outras pessoas que passaram a fazer parte dessa família de músicos mirienses. 

João Batista Gonçalves e Daniel Gonçalves



José Antonio (Zé do Correio)


Paulo Kleber


















Douglas
Neném

José Plácido foi homenageado por seu filho mais famoso, Pinduca, em um refrão de uma musica muito famosa do mesmo que diz:

 “A bença Tia Luzia.
  A bença Tio José
  Minha mãe mandou buscar
  Um pouquinho de Café”.

Esse Refrão fazia a referência, ao famoso café servido todas as tardes por Tia Luzia na casa da praça, que era diariamente frequentada pelos familiares e amigos.
Alguns contemporâneos de José Plácido dizem que ele foi um dos responsáveis pela plantação do famoso Bacurizeiro da Praça Sarges Barros, que também se tornou patrimônio cultural miriense.



Banda do Pinduca